Rio2023.

PLUS, Magnavox.
3 min readMar 26, 2024

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Magnavox plus. Me aproximando de mais uma viagem interestadual com minha formiga atômica, abro um espaço para comentar a primeira que fizemos, respondendo uma pergunta que pairou na minha cabeça por anos: “Por que viajar É CHATO?”. Antes de 2022, quando fui para Salvador, havia apenas viajado para a praia. Há uma exceção sobre uma ocasião em que, muito pequeno, fui ao Mato Grosso, para a casa da família do amante do meu pai. Haja coragem deste homem em ter feito isso, mas as memórias são obtusas. Lembro apenas de ter conhecido uma árvore de bucha vegetal. Simplesmente incrível.

Voltando, todas as outras ocasiões, sem exceção, que antecederam a de 2022, ocorreram no litoral paulista; na minha adolescência, eu comecei a entender o real significado de riqueza e, pobre fodido (inclusive culturalmente), queria saber o por quê de meu pai me levar para Praia Grande e Mongaguá invés de Guarujá ou Ilhabela. Para piorar, uma amiga se mudou para São Sebastião naquela época e eu via todo o luxo de uma região vívida, muito diferente da tragédia chamada Itanhaém que eu conheci. Além de tudo, era massivamente desagradável: planejada nas coxas, sem o mínimo de pesquisa ou atrativos locais.

Lembro de várias viagens ao litoral em dias chuvosos. Lembro, inclusive, de comer mal nessas viagens. Não por besteiras: certa vez, eu encontrei chamadas do meu pai para a amante e ele abandonou a mim e minha mãe numa casa de praia, sem comida. Foi a única situação da minha vida onde meu prato só teve arroz. Anos depois, fomos novamente a praia. Minha mãe insistiu para conhecermos a gastronomia local. Meu pai insistia em economizar indo ao mercado e comprando macarrão para fazer por lá. Minha mãe também não se ajudava, gastando com locação pra um lugar mequetrefe em Santos o valor de uma viagem para a Argentina.

Salvador, em 2022, foi um pouco diferente. Dada como presente para minha mãe, ainda havia a aura de ter uma criança idosa dependendo de mim em cada passo na capital soteropolitana — além de violentamente me impedir de conhecer a noite local (comigo louco pra varar uma baiana). Mesmo assim, a ausência de um já foi motivo de tranquilidade e de progresso, como inclusive relatei em artigo anterior. Contudo, tudo foi diferente no Rio de Janeiro, em agosto de 2023.

Claro que boi preto é criado por boi preto; eu dei umas de Armando. Me irritei com ela, fui inconveniente e até coloquei meus passeios como prioridades. Ela foi muito paciente e talvez ela até saiba que aquela era a minha primeira viagem de verdade. Pude notar ainda lá e pude me desculpar, que foi aceito por ela (claro, depois de pagar um X-tudo, um jantar em Copacabana e um passeio na Cidade do Samba).

Eu estava com alguém que parou para me ouvir e se interessou. Teve interesse em embarcar numa jornada de conhecimento conjunto. Entendeu que os riscos poderiam ser valiosos para a compreensão cultural, a riqueza de hábitos, para o aprendizado em geral. Teve coragem em entrar numa torcida de um Maracanã lotado de um time que nunca torceu. Deu sorte; acabou vendo um vice-campeão mundial em campo. Teve coragem de encarar uma trilha de 4 horas de sinuosidade, subida e descida. Acabou tendo, na minha opinião, a foto e vista mais lindas da capital fluminense. Teve coragem de ir comigo e, de quebra, me levou de souvenir.

E aí, parei de achar que viajar é chato. Magnavox plus.

Fotografia minha, no topo do Dois Irmãos. Batida por ela.

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Reunião de textos referentes a pensamentos extremamente particulares de um homem que não costuma contar seus problemas em público. Diário pessoal do vozeirão.