Guri.

PLUS, Magnavox.
3 min readApr 2, 2023

Magnavox plus. Conversando com minha companheira hoje, me recordei de um episódio marcante na minha vida. No ano de 2008, eu tinha entre 8 e 9 anos. Estudava de manhã na classe da professora Maria Gonçalves Lasso (baleada pelo próprio filho no final daquele ano) e, de tarde, gostava de duas coisas; assistir a MTV Brasil, ainda em sinal aberto, e jogar qualquer Guitar Hero no PlayStation 2.

Foi naquele mesmo ano, inclusive, que eu ganhei minha guitarra para jogar no videogame. Presente dado pelo meu irmão muito me marcou, porque não apenas era uma das poucas coisas que eu pedi ao longo da minha infância, como fiz bom usufruto, zerando o jogo várias vezes e de vários modos.

Sabido que eu era bom no Guitar Hero, cheguei a participar de competições de shopping e até aprendi a modificar o jogo para adicionar minhas próprias músicas. Eu tinha certeza que era um rockstar. Obviamente era, visto que acertava aquelas notinhas que passavam na tela. Já podia lotar um estádio (fato que ironicamente aconteceu 14 anos depois). Logo, eu precisava dar um passo a frente: queria aprender guitarra de verdade!

Antes de ganhar qualquer instrumento, minha mãe me colocou no curso de música do Projeto Guri, pela Prefeitura de SP. Autointitulado o “maior programa sociocultural do Brasil, o Projeto Guri promove a educação musical e o desenvolvimento social”. Pelo menos era a promessa. Entre os instrumentos oferecidos, tinham os de sopro, os de percussão e violão. Não tinha guitarra como eu sonhava, mas topei diminuir a meta.

A primeira aula era uma aula de ritmo; a primeira metade da aula a gente aprendia a ter compasso com uma bola de tênis, passando de uma mão para outra na contagem de 1, 2, 3 e 4. Eu odiei, porque achava que quem precisava de ritmo nem deveria se envolver com música. Parecia que eu tinha entrado num circuito de teatro, com outras crianças aparentemente muito “flores e arco-íris”, se é que você me entende. Olhos abertos, sorrisos fixos. Meio JonBenét Ramsey.

O penetrante olhar de criança vazia e meio idiota, mas cheia de vida!

A segunda parte da aula era para COMPLETAR UMA MÚSICA. Eu achei o máximo, mão na massa! Não esqueço, a professora cantando “Olha a rosa amarela, rosa! Tão bonita e tão bela, rosa!”. Só que eu entendi errado, era para COREOGRAFAR a música. Meu grupo simplesmente não me entendia quando eu disse que poderia ter um solo de guitarra depois da parte que a professora cantava. Eu fazia com a boca e eles olhavam com cara de “eu não lembro dessa parte da música”.

Acho que a professora deu 1 minuto pra criar alguma dança, eu fiquei discutindo com colegas e acabamos não criando nenhuma, enquanto os dois outros grupos fizeram uma dança de flor e de robô. Eu odiei, caralho. Não tava querendo fazer balé. Eu tinha 8 anos e queria ter uma stratocaster. Essa parte eu não me lembro, mas minha mãe conta que, quando eu cheguei da aula, ela perguntou como foi e eu respondi: “Eu odiei, não quero ir mais. Tudo que é do governo e é de graça não presta”. Magnavox plus.

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PLUS, Magnavox.
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Reunião de textos referentes a pensamentos extremamente particulares de um homem que não costuma contar seus problemas em público. Diário pessoal do vozeirão.